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Jamor, Música e Juventude: Entrevista com Joana Perez

Joana Perez

Jamor, Música e Juventude: Entrevista com Joana Perez

Joana Perez actuou no Jamor, Música e Juventude, o evento organizado pelo IPDJ e pela ProDJ, transmitido em live-streaming e que podes ver aqui. Graças aos seus muitos talentos, a organização convidou-a para apresentar o evento. Quisemos falar com Joana para saber como foi a experiência.

Como foi actuar no Jamor, nestas condições tão diferentes e sem público? 

Foi uma experiência única. Não só porque estamos numa altura em que não estão a acontecer eventos, como pelo espaço em si. Acho que qualquer artista se sentiria um privilegiado por actuar no Estádio Nacional.

Como é que tens vivido esta fase tão complicada para os DJs e todos os que trabalham no meio artístico?

Não tem sido fácil, admito. Cá em casa somos dois DJs e vimos a nossa actividade totalmente parada. Desapareceu o trabalho em discotecas, em viagens de finalistas, em eventos académicos. Tenho tentado ser positiva e acreditar que tudo o que está a acontecer tem um propósito por um bem de força maior, mas o que me assusta mais é o futuro. Primeiro porque não temos a menor ideia de quando o nosso sector vai retomar, e depois porque, quando retomar, toda esta crise terá deixado consequências graves para todos nós. Tenho visto a vida de alguns amigos que são donos de estabelecimentos de diversão noturna a mudar de um dia para o outro. E preocupam-me os artistas de teatro, por exemplo, que já viviam com tantas dificuldades. A esperança é a última a morrer, e eu espero que esta crise que está a causar sofrimento a tantos também sirva para abrir os olhos de muitos para a realidade e para as condições laborais em que (sobre)vivem estes artistas.

Conta-nos como foi a preparação, musical e psicológica, para actuar num estádio vazio?

Uma autêntica montanha russa! Primeiro pensei que não teria grandes preocupações, afinal de contas não tinha um público “presente”, ou seja, teria mais liberdade para a escolha musical. Rapidamente essa passou a ser a minha maior preocupação! Para mim, a reacção do público é decisiva na minha selecção musical e a ideia de não ter esse “input” começou a assustar-me. Claro que, como em todos os momentos em que fiquei ansiosa com uma actuação, tudo se resolve com muito trabalho e dedicação e, claro, no momento em que pisamos o “palco” e nos esquecemos de tudo o resto. Quando me explicaram que este evento estava inserido numa campanha que pretendia fomentar, nos jovens, a procura activa de informação e o pensamento crítico, fazia sentido procurar um alinhamento musical que agradasse aos mais jovens, mas que ao mesmo tempo criasse um ambiente positivo para todos os que estivessem a assistir.

Já tinhas saudades de tocar? 

Muitas! Tenho sempre.

Tens feito livestreams a actuar?

Não. Primeiro porque não tenho, em casa, o equipamento adequado para o fazer. E também porque rapidamente me apercebi que muitos artistas estavam a fazê-lo (e ainda bem), mas achei que, no meu caso, não ia trazer nada de significativamente relevante. Fiz alguns lives no Instagram, mas com conteúdos interactivos e perguntas de cultura geral.

Há quem defenda que com a proliferação de livestreams gratuitos se está a banalizar a arte, por outro lado defende-se o direito de acesso à arte e à diversão nesta fase tão complicada para todos, qual é a tua visão? 

Eu consigo entender as duas visões. A minha geração (Millennials) associa a Internet ao acesso a conteúdos gratuitos, o que não é sempre positivo, basta pensarmos na quantidade de conteúdos que são pirateados todos os dias. Uma coisa boa dos DJs, pelo menos daqueles que encaram a profissão com seriedade, é que a música que levamos para as pistas de dança é comprada (Aliás, se formos alvo de uma inspecção, são-nos solicitadas facturas), ou seja, é uma actividade que valoriza os cantores, compositores, produtores, etc. Para não falar do investimento que fazemos em material técnico, e muitas vezes, em formação. Ainda assim, por vezes a profissão de DJ é desvalorizada, até mesmo nas actuações ao vivo, o que me leva a crer que a maioria das pessoas rejeitaria a ideia de pagar para ter acesso a um livestream. Não acho que fazer um livestream gratuito seja banalizar a arte, até porque muitos artistas podem vê-lo como um meio para promover o seu trabalho. Por outro lado, acredito que esta mudança social e económica que estamos a atravessar seja determinante para mudar a imagem que as pessoas têm dos artistas, de forma a valorizá-los. É urgente encontrar um modelo que permita que os artistas também possam ter rendimentos em “teletrabalho”. Como? Talvez passasse por investimento da parte das autarquias, por exemplo, mas sou leiga na matéria de gestão, por isso não vou desenvolver muito.

Como é que vês o futuro da música, particularmente dos eventos? Quais são, na tua opinião, as soluções a curto e médio prazo enquanto durar a pandemia?

Mais uma vez, sou leiga em muitas matérias para poder falar sobre isto. Sabendo o que sei hoje, acredito que uma das soluções passasse por um contributo das televisões e rádios para difundir os eventos, com patrocínios de marcas, de forma a que todos ganhassem. Esta seria a solução mais rápida, porque acredito mesmo que a essência dos eventos são as pessoas, a convivência. É certo que temos de aprender a conviver com menos contacto físico, mas a proximidade, mesmo que a dois metros de distância, tem sempre mais “calor” do que um ecrã. Eventos ao ar livre seriam uma boa forma de retomar os eventos físicos, mas com regras diferentes. Com maior preocupação com limpeza, com o distanciamento necessário e com uma nova mentalidade. Acredito que fosse possível, se todos nos comprometêssemos a cumprir as regras necessárias para  bem de todos. E, para os artistas, a parte mais difícil será não contar com aquela multidão aglomerada à frente do palco para nos dar energia. Mas temos de nos saber adaptar às circunstâncias e, com tempo, acabaríamos por nos habituar.

Jamor, Música e Juventude – Livestream Completo

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About the Author /

sonia.silvestre@gmail.com

Editora, de 2000 a 2011, da revista Dance Club. Durante mais de uma década escreveu e entrevistou muitos DJs e produtores de todos os géneros musicais, de Carl Cox, Erick Morillo, Todd Terry, David Guetta, a Dubfire, entre muitos outros. Escreveu para outras revistas e publicações, como a inglesa Musik. Em 2008 foi convidada para moderar o único painel sobre a cena electrónica portuguesa no Amsterdam Dance Event, o Focus On Portugal. Integrou a WDB Management, onde exerceu como Brand Manager até ao final de 2018. Durante este tempo participou na gestão de carreiras dos artistas no que toca à comunicação, promoção, gestão de patrocínios e a relação com as editoras. Fez parte da equipa em eventos como: a One Last Tour dos Swedish House Mafia em Lisboa; as duas datas do I Am Hardwell em Lisboa; o Mega Hits Kings Fest; e o RFM Somnii, de 2012 a 2018, entre outros. Em 2019 começou a trabalhar directamente com os artistas e é Manager.